A grama, com todos os seus tons de verme-amarelado, estava quebradiça e fina, o que me fez pensar que ela poderia ter sido queimada ou ficado sem água. O céu, esse violeta, tinha nuvens finas de riscadas, o que dava a impressão de conforto. As árvores, com seus troncos laranjas e suas folhas com tom de outono, balançavam levemente ao vento inexistente, fazendo um balé com seus - finos - galhos.
Eu me sentia febril e delirante. Caminhada horas sem parar, sob um Sol escaldante que não estava no Céu. Minha sombra acima de minha cabeça era minha única companhia, mas durante minha jornada eu me juntei à uma Mula marrom-chocolate e uma Pomba cinza-poluição.
Havia uma porta, pequena - não passava da minha cintura -, verde e com maçaneta branca. Atravessei a porta, me encontrando num palco de um grande teatro, chão de madeira e um impressionantemente alto pé-direito. No palco, além de mim, da Mula e da Pomba, estavam um lindo e reluzente Piano de calda preto - e sobre ele, uma Máquina Fotográfica - e um Violão gasto.
Peguei o Violão e toquei suas cordas. Gastas e desafinadas. Machucavam meus dedos pela oxidação e ação do tempo. Fiquei horas imensuráveis - não por ser muito tempo, mas sim porque não havia nenhum relógio no palco - tocando e afinando. Depois me aproximei do Piano. Se eu ainda soubesse tocar, ficaria mais um tempo lá. Me sentei e deitei meus dedos sobre as teclas limpas e brilhantes. Deixei que eles seguissem seu caminho, me mostrando um ritmo que se assemelhava a uma valsa.
Após um tempo, virei a cabeça e vi um Lago no lugar aonde estariam os assentos. Desci e cheguei cada vez mais perto, ainda febril. A água emitia uma luz verde-puro, e sua coloração era turquesa. Senti cada vez mais a luz me envolver, uma luz que deveria passar calma e tranqüilidade. Então por que eu sentia angústia?
A Mula e a Pomba passaram pela porta novamente, voltando ao campo. Eu continuava me afogando na luz. Um clique e eu me viro, vendo alguém com a Máquina Fotografia na mão. Eu conhecia aquele vulto, era familiar. Eu queria falar-lhe, mas não havia voz. Havia canto.
Só para o registro, o tempo hoje está cool, não há previsão para chuvas de raiva ou ventos fortes. Mas sabe-se que, às vezes, o Homem do Tempo nem sempre acerta.
Sauna Open Air ultimo dia.
Há 16 anos
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